O número de venezuelanos que chegam à cidade de Pacaraima (RR) em busca de ajuda no Brasil mais que dobrou após as eleições municipais de julho na Venezuela, que mantiveram o PSUV de Nicolás Maduro no poder. A Cáritas Brasileira, que apoia novos migrantes na fronteira, registrou média diária de 350 atendimentos em agosto — ante 150 diários no primeiro semestre, quando a unidade foi instalada em maio de 2024.
A estrutura sanitária Padre Edy, mantida pela Cáritas ao lado do posto da Operação Acolhida, oferece banheiros, duchas, lavanderia, fraldário e bebedouros. Entre 1º e 20 de agosto, foram contabilizados 17.212 atendimentos, quase 6 mil a mais que em todo o mês de julho, quando a Cáritas realizou 11.236 atendimentos. A média diária geral subiu de 400 para 860.
“Após as eleições, o fluxo cresceu ainda mais. Muitos relatam falta de esperança em mudanças políticas e buscam no Brasil uma vida melhor”, afirma Luz Tremaria, coordenadora da Cáritas em Pacaraima.
O governo brasileiro informou que a Operação Acolhida, coordenada pelo Exército, dispõe de protocolos para responder a picos súbitos de entrada de migrantes e refugiados. Desde 2015, mais de 1 milhão de venezuelanos cruzaram a fronteira por Roraima, motivados pela crise econômica, política e social em seu país. No primeiro semestre de 2025, o Brasil recebeu 96.199 venezuelanos, 53% deles por Roraima, ante 92.027 no mesmo período de 2024.
Entre os relatos de quem chega, está o eletricista Moises Mata, demitido em El Tigre: “Perdi o trabalho e não vi mais futuro. Depois das eleições, ficou claro que nada vai mudar.” A dona de casa Dexys Sapienza, que fugiu com as duas filhas, reclamou do custo de vida: “Agora tudo é em dólar, sobe duas vezes por dia. Sem esperança, quero que minhas filhas estudem e tenham oportunidades aqui.” O pedreiro Edgar Suarez, que já pensava em migrar há dois anos, desembarcou com ajuda de parentes em Santa Catarina.
O pesquisador João Carlos Jarochinski Silva, da UFRR, observa que o perfil atual de chegadas reflete processos de reunião familiar: “Quem veio primeiro ajuda parentes a se estabelecerem. Esse fluxo não parece temporário e deve continuar nos próximos meses.”