O curador de cinema carioca Gustavo Scofano é um dos 22 feridos no descarrilamento do Elevador da Glória, em Lisboa, que matou 16 pessoas na última quarta-feira (4). “Tenho a sensação muito clara de que ia morrer. O bonde estava tão perto de mim, que eu pensei imediatamente que seria esmagado”, contou.
Ele passou por microcirurgias nas mãos e nas costas e recebeu dezenas de pontos antes de ter alta horas depois do acidente. Embora as marcas físicas incluam diversos pontos e uma cicatriz na cabeça, Scofano afirma que a ferida mais profunda é emocional, fruto do pânico e das imagens que não o abandonam.
O curador lembra que ouviu um estrondo alto, olhou à frente e viu o bondinho descendo desgovernado em sua direção. “Era impossível virar e me jogar, mas foi o que fiz. Levantei, vi sangue nos braços e na cabeça, estava coberto de sangue”, relatou.
O Elevador da Glória, em funcionamento desde 1885, transporta até 800 mil pessoas por ano. Após o desastre, moradores e turistas deixaram flores, velas e bilhetes no local em homenagem às vítimas.
Entre os mortos estão cinco portugueses — quatro funcionários da Santa Casa de Misericórdia e o condutor André Marques, que dará nome a um novo bondinho. Sobreviventes e feridos incluem pessoas de oito nacionalidades, entre elas um menino alemão de 3 anos resgatado por um comerciante de Bangladesh.
Laudos preliminares indicam falha no cabo de aço responsável pela tração, que se soltou e deixou o bondinho descer sem controle por cerca de 170 metros a 60 km/h, atingindo prédios e postes. A Carris, empresa pública operadora, afirmou ter feito inspeções diárias e manutenção na manhã do acidente, mas agora enfrenta questionamentos sobre seus protocolos de segurança.
O episódio revive a lembrança do acidente de bondinho em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, em 2011, que deixou cinco mortos após falha nos freios. Na época, a Carris chegou a prestar consultoria ao sistema brasileiro.
“Graças a Deus eu não morri, mas tem um peso imenso que fica”, concluiu Gustavo Scofano ao relembrar o momento em que escapou da tragédia.