Pesquisadores perfuraram o leito marinho a cerca de 30 km da costa de Cape Cod, em Massachusetts, e identificaram um gigantesco aquífero submarino com água doce que se estende possivelmente de Nova Jersey ao Maine. A expedição internacional, batizada de Expedition 501, coletou quase 50 mil litros em perfurações realizadas neste verão do Hemisfério Norte para investigar a origem e o alcance desse depósito inexplorado.
O fóssil marinho remonta ao recuo das geleiras que elevaram o nível dos oceanos há milhares de anos, quando água doce ficou presa em sedimentos sob o mar. Quase 50 anos após um navio do governo dos EUA ter perfurado casualmente o solo marinho em busca de petróleo e encontrado água doce, cientistas voltaramm ao local usando um liftboat adaptado para pesquisa, perfurando até 400 metros abaixo do fundo oceânico.
Nos próximos meses, laboratórios em vários países vão analisar a salinidade, os minerais dissolvidos e os microrganismos presentes na água, além de determinar sua idade. Se confirmada origem recente, a reserva pode estar recarregando-se lentamente; se for muito antiga, vinda direto do derretimento glacial, representaria um recurso finito. Esses dados vão determinar a viabilidade de uso humano.
O potencial de extração enfrenta obstáculos técnicos e regulatórios: definir a propriedade do aquífero, inventariar os impactos ambientais e desenvolver sistemas de bombeamento sem danificar ecossistemas marinhos. Especialistas alertam que levar a água à costa para abastecimento público em larga escala pode levar anos, mesmo com métodos já testados na indústria de petróleo.
A missão de US$ 25 milhões, financiada pela Fundação Nacional de Ciências dos EUA e pelo Consórcio Europeu de Perfuração em Pesquisa Oceânica, marcou o primeiro esforço sistemático para mapear e perfurar aquíferos submarinos. Acusações de escassez hídrica global — com demanda prevista pela ONU para superar a oferta em 40% em cinco anos — reforçam a urgência de explorar todos os possíveis suprimentos de água doce.