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Terapias modernas transformam câncer em doença crônica controlável, dizem médicos

Avanços no diagnóstico precoce, em terapias personalizadas e na mudança de estilo de vida estão levando o câncer a ser tratado cada vez mais como uma condição crônica controlável, afirmam especialistas.

No fim de 2022, a analista de 32 anos Izabella Barroso notou sangramento esporádico nas fezes. Após ser diagnosticada inicialmente com hemorroidas e não apresentar melhora, buscou uma retossigmoidoscopia que confirmou neoplasia maligna. Em duas cirurgias — remoção do tumor e reversão de ostomia — ela evitou quimioterapia e radioterapia, entrando em remissão graças ao diagnóstico precoce.

Para o oncologista Stephen Stefani, da Oncoclínicas e da Americas Health Foundation, o câncer caminha para o mesmo modelo de convivência de HIV e diabetes. “Não vamos erradicá-lo, mas vamos aprender a conviver por anos com qualidade de vida”, afirma.

Essa virada na oncologia apoia-se em três pilares: detecção em estágios iniciais, tratamentos focados nas mutações de cada tumor e adoção de hábitos saudáveis — alimentação equilibrada, exercícios e acompanhamento contínuo reduzem o risco de recidiva. Na prática, alguns pacientes com metástases vivem há mais de dez anos sem perda significativa de qualidade de vida.

A individualização dos tratamentos avança com medicamentos como larotrectinibe (para tumores com fusão NTRK), pembrolizumabe (alta carga mutacional) e Enhertu (HER2-positivo). Além disso, ganham espaço a imunoterapia, terapias conjugadas e teranósticas, além das inovadoras células CAR-T e estudos com doses ultrabaixas de imunoterapia para menor toxicidade.

Cresce também o perfil de pacientes jovens: casos em menores de 50 anos subiram 79% em três décadas. Fatores ambientais e comportamentais — sedentarismo, obesidade, dieta ultraprocessada, poluição e microplásticos — são apontados por médicos como riscos. “Vivemos mais, e o câncer está ligado ao envelhecimento celular, sendo impossível erradicar totalmente a doença”, explica Vladmir Cordeiro de Lima, do A.C. Camargo Cancer Center.

Apesar dos avanços, o acesso é desigual. A maior parte das terapias personalizadas está restrita ao setor privado, enquanto o SUS ainda demora a incorporar esses tratamentos. Menos de 4% do orçamento federal de saúde é dedicado à oncologia, apontam especialistas.

Dois anos após o diagnóstico, Izabella faz exames regulares e acompanhamento psiquiátrico. “Tem dias de medo, mas estou voltando a viver”, diz. Reconstruiu sua vida afetiva e profissional e hoje planeja morar com a companheira. “A Izabella de antes não existe mais, mas a de agora está viva e cheia de planos.”

O Instituto Nacional de Câncer estima 40 mil novos casos de câncer de intestino no Brasil em 2025, reforçando a urgência de expandir o acesso às terapias modernas.

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