No momento, você está visualizando Áudios inéditos mostram diálogos entre pilotos e controle antes de queda em Vinhedo

Áudios inéditos mostram diálogos entre pilotos e controle antes de queda em Vinhedo

Nesta sexta-feira, um conjunto de áudios inéditos revelou parte das últimas comunicações entre a tripulação do voo 2283 da Voepass e o controle de tráfego aéreo de São Paulo, minutos antes da queda em Vinhedo (SP), que matou 62 pessoas em 9 de agosto de 2024.


Áudios revelam comunicação padrão sem indicação de pane

As gravações, obtidas pelo g1, mostram que, apesar de contato constante com controladores em duas frequências distintas, os pilotos não relataram qualquer emergência ou pane.
Os diálogos seguem o procedimento normal de aproximação para pouso, com orientação de mudança de frequência, confirmação de recepção e manutenção de nível de voo.


Falha no sistema de degelo ignorada pela manutenção

Em depoimento exclusivo, um ex-funcionário revelou que, horas antes da decolagem, o ATR 72-500 apresentou pane no sistema de degelo.
A falha, que inviabilizaria o voo para Cascavel, foi omitida do diário de bordo e não registrada pela liderança de manutenção.
Essa omissão se tornou ponto central das investigações do Cenipa.


Sequência das comunicações finais

  • 13h14min21s – Controle orienta mudança para frequência 135,75 MHz; piloto confirma.
  • 13h14min36s – Tripulação informa recepção com “informação Sierra”.
  • 13h14min49s – Controle pede retorno à frequência 120,925 MHz; piloto acata.
  • 13h18min21s – Pilotos avisam estar no ponto ideal de descida; instruídos a manter nível 170.
  • 13h18min53s – Primeira indicação de perda de velocidade surge na caixa-preta, sem menção pelos pilotos.
  • 13h19min07s – Tripulação muda novamente de frequência para 123,25 MHz; cerca de 30 segundos depois, novo alerta de velocidade crítica.

O que não aparece nos áudios

O g1 não teve acesso aos primeiros contatos com o APP-SP, por volta das 13h05, nem às comunicações após 13h19min07s descritas no relatório preliminar do Cenipa.
Nessas trocas finais, os pilotos continuaram a receber orientações para manter o nível de voo, sem indicar qualquer situação fora do normal.


Alertas de gelo e desempenho comprometido

Apesar da rotina tranquila nos diálogos externos, as caixas-pretas registraram alertas internos que apontam comprometimento por gelo:

  • 13h17min20s – Detector de gelo apaga momentaneamente; copiloto consulta comissária.
  • 13h17min32s – Luz de gelo reacende; comandante informa passageiros.
  • 13h18min41s – Alerta “CRUISE SPEED LOW” e aviso sonoro; velocidade cai para 353 km/h.
  • 13h18min55s – Tom de alarme único durante comunicação com o controle.
  • 13h19min28s – Alertas de “DEGRADED PERFORMANCE” e velocidade reduzida a 340 km/h.
  • 13h20min00s – Copiloto comenta “bastante gelo” e aciona sistema de degelo.
  • 13h21min09s – perda de controle da aeronave; 13h22min30s – colisão com o solo.

Outros indícios de gelo na rota

No mesmo período, pelo menos três aeronaves relataram formação de gelo à torre de São Paulo.
Às 13h15, a TAM 3361 informou “gelo moderado nível 190 próximo ao GR249”, sendo liberada para descer ao nível 170 sem restrições.


Depoimento do copiloto no trecho anterior

Horas antes da tragédia, o copiloto Humberto Alencar relatou à esposa turbulência intensa e formação de gelo durante o voo de ida para Cascavel.
Ele comentou que 90% do percurso foi com sinais de cintos afivelados e luz de aviso ligada, mas que o trajeto transcorreu sem maiores incidentes.


Com o lançamento do webdocumentário “81 segundos” na próxima quarta-feira (6), novos detalhes devem aprofundar as causas e falhas que levaram ao maior desastre da aviação brasileira em quase 20 anos.

Deixe um comentário