Em Genebra, representantes de quase 180 países iniciaram nesta terça-feira (5) uma reunião de 10 dias na sede da ONU para redigir o primeiro tratado mundial voltado a reduzir a poluição por plásticos.
Há três anos, as nações concordaram em criar um acordo juridicamente vinculante para diminuir o desperdício e restringir produtos químicos nocivos presentes em alguns plásticos. Em novembro de 2024, as negociações em Busan fracassaram após um grupo de países produtores de petróleo bloquear avanços.
Mais de 100 países defendem a redução global da produção de plástico e a eliminação gradual de itens de uso único. Mas Arábia Saudita, China, Rússia e Irã se opõem a limites de produção e pressionam por foco apenas na gestão e reciclagem de resíduos. Os Estados Unidos sinalizaram apoio a um texto menos ambicioso, sem metas de corte na produção.
A poluição plástica custa pelo menos US$ 1,5 trilhão anuais e representa risco “grave e subestimado” à saúde pública, segundo relatório da revista The Lancet divulgado na segunda-feira (4). Essa ameaça cresce diante da presença de microplásticos em oceanos, rios e na cadeia alimentar.
“A poluição por plásticos está danificando ecossistemas, contaminando oceanos e rios, ameaçando a biodiversidade e prejudicando a saúde humana”, afirmou o diplomata equatoriano Luis Vayas Valdivieso, presidente dos debates, na abertura dos trabalhos.
Para pressionar os negociadores, cientistas e ONGs montaram em frente à sede da ONU uma instalação chamada A carga do pensador, do artista canadense Benjamin Von Wong, que envolve a estátua de Rodin em um mar de resíduos plásticos.
O setor químico, representado pelo Conselho Americano da Indústria Química, defende o plástico como “vital para a saúde pública” em equipamentos médicos estéreis, máscaras e embalagens. A posição foi contestada por ativistas do Greenpeace e da ONG Trash Hero World, que pedem corte imediato na produção e transição justa para empregos em reciclagem e coleta de resíduos.
O professor Richard Thompson, especialista em lixo marinho, alerta que microplásticos já foram encontrados em regiões remotas, do Ártico ao Everest, e adverte que a negociação exige urgência. A produção global disparou de 2 milhões de toneladas na década de 1950 para 475 milhões de toneladas anuais, gerando mais de 200 trilhões de fragmentos nos oceanos.