A Receita Federal e o Ministério Público paulista, na Operação Spare, descobriu que uma rede de cerca de 60 motéis vinculados ao PCC movimentou mais de R$ 450 milhões entre 2020 e 2024, usando parte desses recursos para adquirir bens de luxo incompatíveis com sua atividade — iate de 23 metros, helicóptero Augusta A109E, Lamborghini Urus e terrenos avaliados em R$ 20 milhões.
Segundo a investigação, os motéis atuavam em nome de laranjas para lavar dinheiro de outras frentes criminosas. “Esses bens não têm relação com a atividade operacional dos motéis e alertaram para a origem ilegal dos recursos”, afirmou Márcia Meng, superintendente da Receita em São Paulo.
O esquema é desdobramento da Operação Carbono Oculto, que revelou o uso de fintechs para inserir recursos ilícitos no sistema financeiro formal. Na Spare, foram identificados 21 CNPJs de 98 estabelecimentos — incluindo lojas de franquias, restaurantes e empreendimentos de construção civil — utilizados para distribuir R$ 45 milhões em lucros e dividendos.
Entre as irregularidades detectadas está uma distribuidora de restaurantes ligada a um dos motéis, responsável por pagar R$ 1,7 milhão em lucros sobre receita de R$ 6,8 milhões entre 2022 e 2023. Outros CNPJs adquiriram imóveis de R$ 1,8 milhão em 2021 e R$ 5 milhões em 2023, levantando ainda mais suspeitas.
A Operação Spare também mira esquemas de lavagem de dinheiro nos setores de combustíveis e jogos de azar, e estima que os bens levantados representem apenas 10% do patrimônio real dos envolvidos. As investigações prosseguem para rastrear todo o fluxo financeiro da organização.